Quando uma companhia do porte da Ambipar, referência em serviços ambientais, balança financeiramente, a notícia assusta tanto investidores quanto trabalhadores e fornecedores. O pedido de recuperação judicial, além de movimentar a bolsa de valores, abre um alerta sobre a importância da governança e da transparência nas grandes corporações – temas cada vez mais centrais na economia mundial.
Ambipar pede recuperação judicial no Brasil e nos EUA
Na noite de segunda-feira, o conselho da Ambipar aprovou o pedido de proteção judicial para tentar reverter um cenário que rapidamente saiu de controle. Com uma dívida acumulada que chega a R$ 10 bilhões, a empresa optou pela recuperação judicial no Brasil, incluindo suas subsidiárias, e buscou também a proteção do Capítulo 11 do sistema norte-americano – o mecanismo especial de falências dos Estados Unidos.
A decisão foi tomada após sinais de irregularidades em operações financeiras, principalmente derivadas de contratos de swap firmados pela antiga diretoria financeira. A crise ganhou força após a saída repentina do então diretor financeiro, João de Arruda, gerando desconforto no mercado e entre os credores, que logo começaram a exigir pagamentos imediatos. O problema piorou em setembro, quando a troca de diretoria fez as ações da Ambipar desabarem e abriu espaço para cobranças antecipadas.
Investigações e resposta da Ambipar
Com o impacto negativo das suspeitas, a companhia chamou a consultoria internacional FTI Consulting para fazer uma varredura interna, apurar responsabilidades e buscar reparação para os prejuízos. Além disso, autoridades brasileiras já investigam possíveis crimes cometidos pelo ex-diretor e aliados. O novo diretor financeiro, Ricardo Garcia, agora acumula também a função de manter contato direto com investidores, tarefa essencial enquanto tentam reorganizar as contas.
Pressão dos COEs e as perdas para investidores
A Ambipar já estava fragilizada por disputas com bancos como o Deutsche Bank, que, ao exigir um adicional de US$ 35 milhões, acentuou a crise e disparou cláusulas em contratos que anteciparam o pagamento de outras dívidas. Investidores de produtos financeiros conhecidos como COEs (Certificados de Operações Estruturadas) sofreram prejuízos enormes – nos casos ligados à Ambipar, o valor resgatado chegou a ser inferior a 7% da quantia inicialmente investida.
Os COEs, para quem não conhece, são instrumentos que oferecem exposição a diversas classes de ativos – como ações, moedas e títulos de crédito – dentro de uma mesma aplicação. Isso faz deles produtos de risco, ainda mais quando dependem da saúde financeira de grandes empresas como a Ambipar. O baque também atingiu papéis de empresas como a Braskem, que enfrentou retração semelhante.
Impacto na bolsa e exclusão de índices
Não demorou para a repercussão respingar na bolsa de valores. As ações da Ambipar foram retiradas de nove dos principais índices da B3, incluindo o de ações verdes, deixando um recado sério sobre a importância de respeitar padrões de governança rígidos. A redistribuição da participação da Ambipar entre outras empresas deu mais combustível à insegurança dos investidores, acentuando o ciclo vicioso da crise.
Como funciona a recuperação judicial e o Capítulo 11
Tanto no Brasil quanto nos EUA, os processos de proteção judicial têm o objetivo de dar fôlego às empresas para que possam renegociar com os credores e evitar a falência total. No Brasil, a recuperação judicial garante a suspensão das cobranças por até 180 dias e permite que a empresa continues operando normalmente enquanto propõe acordos. Já nos Estados Unidos, o Capítulo 11 é conhecido por ser mais ágil nos tribunais e permite inclusive que pessoas físicas busquem essa proteção – diferença importante em relação à lei brasileira.
Outra distinção é que o Capítulo 11 nos EUA suspende débitos variados, desde contratos de arrendamento até leasing. No Brasil, certas dívidas, como as garantidas por alienação fiduciária, continuam podendo ser cobradas normalmente. Por isso, empresas como a Ambipar costumam preferir a via americana para tentar se reorganizar com mais flexibilidade.
A lição por trás do colapso da Ambipar
Além do drama financeiro, a queda da Ambipar serve como reflexão para o mercado inteiro. A confiança do investidor, muitas vezes, pode ruir de maneira instantânea diante de problemas de transparência interna ou fraudes – e recuperar esse terreno pode ser um desafio quase tão grande quanto voltar a crescer.
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